Ao longo do desenvolvimento musical da música extrema e suas vertentes, o Black Metal teve uma trajetória ímpar, apontando para diferenciações e transformações ao longo de sua história, além de peculiaridades regionais.
No Brasil, o estilo teve seu nascimento com três bandas, Vulcano, Sarcófago e Sepultura, sendo consideradas bandas da chamada Primeira Onda de Black Metal.
Em Curitiba, tal movimento originou-se através da única banda local de Death Metal nos anos de 1980, a Infernal, a qual lançou duas demos entre os anos de 1989 e 1990, um single em 1991 intitulado “Of Weakness and Cowardice”, além do álbum “Drowning in the Chalice of Sin” pela extinta R.S.L Records.
Consistia em um Death Metal influenciado pela cena da Flórida/EUA, mesclando com características estéticas e musicais presentes na América do Sul, com uma produção limpa e coesa para o gênero no início dos anos 1990.
Mesmo consistindo em uma banda de Death Metal, vários ex-membros da Infernal tiveram importância em bandas de Black Metal que surgiram nos anos de 1990. Entre eles, Sucoth Benoth, atual vocalista de Amen Corner; Warhate Sower e Maleventum, ambos atuais membros de Murder Rape, este último na função guitarrista e o primeiro como baterista.
Ao referir-se à Infernal, há a necessidade de indicar que a banda foi relevante para a cena curitibana como um todo, já que muitos músicos que passaram por ela seguiram com bandas desde Heavy Metal, Doom Metal e até Black Metal.
No ano de 1992, duas bandas de Black Metal surgiram na cidade de Curitiba. De um lado o Amen Corner, constituído por Paulista (Sucoth Benoth) nos vocais, Tito (Murmúrio) na guitarra, Fabrício Rodrigues no baixo, Paulo Costa na bateria e M. Flach na guitarra, formação a qual lançou a primeira demo, “Eternal Prophecies”. De outro lado, Murder Rape, formado por Agathodemon no baixo, Ipsissimus na guitarra, Sabatan nos vocais e Ichthys Niger na bateria, composição que lançou a demo “In Liaison with Satan”, no ano de 1993.
Ambas consistiam em um Black Metal com tempos lentos e médios, sonoridade mais influenciada pelo Doom Metal do que pelo Death Metal. Tal tendência era já perceptível no Brasil, já que na cena baiana o Mystifier apontava para uma direção diferente para o Black Metal brasileiro frente ao escandinavo, caso perceptível com os álbuns “Wicca” e “Goetia”.
No início dos anos de 1990, a Escandinávia teve importância em formar bandas no estilo, transformando a forma de tocar os instrumentos, relação com a imagem do gênero, produção em estúdio, performances ao vivo, abordagens em letras, etc.
No caso de Curitiba, Amen Corner e Murder Rape apresentavam uma abordagem sonora similar, porém estéticas distintas. Entre os possíveis motivos de tais características próprias, frente à Escandinávia, podem estar atrelados ao isolamento da cena regional, com uma relação mais forte entre bandas brasileiras entre si.
Movimentos similares ocorreram em outros países do globo, caso notório do Black Metal Grego com Rotting Christ e Varathron, por exemplo.
Com a repercussão da demo, Amen Corner lançou um compacto com duas músicas (“The Agony of Souls” e “The Sons of Cain”) pela Hellion Records, em 1993. Raro, este registro proporcionou maior projeção à banda.
No ano de 1993, Amen Corner assina com a Cogumelo Records e lança o “Fall, Ascension, Domination”. Logo depois, em 1994, Murder Rape, também pela Cogumelo, lança o “Celebration of Supreme Evil” (CD recentemente relançado em digipack pela Mutilation Records). Ambos tornaram-se clássicos do Black Metal nacional e possuem características bastante peculiares, as quais continuaram a ser desenvolvidas nos álbuns seguintes.
Entre as características em comum está o caso do tempo. A maioria das bandas que constituíam o Black Metal na Segunda Onda desenvolveram uma nova forma de tocar, utilizando-se de uma técnica denominada tremolo, acompanhado de dissonância de notas, além uso de tempos musicais muito rápidos.
Essa característica fez ocorrer um novo tipo de sonoridade na busca de uma atmosfera suja e fria. Já Amen Corner e Murder Rape não podem ser colocadas nessa tipologia, em razão de que as suas músicas são de lento ou médio tempo, utilizando a técnica clássica do Palm Mute em vez da nova constituída pela Segunda Onda de Black Metal.
Uma segunda característica é a ausência de Blast Beats. O terceiro ponto é que ambos os álbuns foram gravados no mesmo estúdio em Curitiba na década de 1990, em tecnologia analógica.
Os sons das guitarras são originais por não possuírem características típicas do estilo na época, que é o caso da distorção excessiva para conseguir um som mais sujo e ganho. Ambas as bandas empregaram guitarras limpas para os padrões do estilo.
Esteticamente, a Amen Corner possuía uma aparência mais próxima às bandas de Heavy Metal, com apenas Paulista usando Corpse Paint, fato similar ao caso de Mercyful Fate no Black Metal. No caso de Murder Rape, todos os membros usavam Corpse Paint, puxando mais as influências europeias neste caso. Tal pintura facial sempre esteve presente no Black Metal, porém, só teve maior aceitação com o desenvolvimento da Segunda Onda.
Mesmo sendo tais características presentes nas duas bandas, durante o início e meados dos anos de 1990, elas foram se modificando no final da respectiva década, como será discorrido ao longo desta série de posts.
Aproveito para convidar o leitor a deixar um comentário. Confira também alguns materiais relacionados e até o próximo post…
Reservas morais! Clássicos curitibanos com uma discografia imensa e que felizmente estão na ativa até hoje. Aguardamos ansiosamente as partes seguintes!
Fotos históricos !!! Parabéns pelo POST
Ótima matéria!
Existiu uma banda death/black anterior ao Infernal. Trata-se do FUNERAL. Banda do Urso que toca com o Slammer hj. Era considerado o Sarcófago do Paraná .