BATHORY: o significado de “Hammerheart” em minha vida

Minha história com esse disco é muito peculiar, e a minha relação íntima com ele é muito significativa. Eu coloco o “Hammerheart” entre os 5 discos mais significativos pra mim pois ele tem o lugar de honra no meu coração.

A descoberta

Tudo começou no ano de 1990, quando eu tinha uns 14 para 15 anos. Naquela época, minha mãe me conseguiu um trabalho em um cartório, substituindo um funcionário que pegaria férias. Aceitei o convite e comecei a trabalhar lá.

Cumpri um mês de trabalho e quando recebi o meu pagamento, saí de lá e comprei, em uma loja de bijouteria, um crucifixo que eu iria inverter e fui em seguida na Jukebox, uma loja de discos que ficava na 13 de Maio e que na época era muito conhecida pelo público curitibano.

Comecei a olhar os discos e achei uma cópia doBlood Fire Death” e aquela capa me chamou atenção: o logotipo imponente e a capa maravilhosa. Apesar de nunca ter ouvido falar da banda, me cativou logo ali. Em seguida, fui numa loja chamada Música e Cia que ficava no Shopping Mueller e, nessa loja, lembro de ter comprado o “The Eye” do King Diamond.

“Blood Fire Death”, álbum de 1988.

Chegando em casa, coloquei o “Blood Fire Death” para tocar e gostei muito da introdução instrumental com violão, aqueles cavalos relinchando, as vozes ao fundo, começou a me passar uma sensação boa.

Quando começou a “Fine Day to Die”, tive um choque: fui ouvindo e sentindo o desenvolvimento dos riffs, arranjos, o ritmo pulsante e pensei o quanto aquilo era bom. As 3 faixas seguintes, “The Golden Walls of Heaven, “Pace ‘till Death” e “Holocaust” são mais “porrada”, mais agressivas. São ótimas, mas a que realmente me tocou foi “A Fine Day to Die”.

Virando o disco, começa com a “For All Those Who Died”, música que gostei muito também, especialmente por ser mais cadenciada. A “Dies Irae” me chamou atenção na parte do meio, que achei sensacional, além de ser mais lenta e também final que me arrepia sempre que ouço. A faixa título considero no mesmo nível das outras. Me identifiquei, pois me passa uma força.

Abri a capa do disco e vi aquela foto dos caras com espadas no meio do mato, o Quorthon, o Vvornth e o Kothaar. Essa foto me impressionou muito. O visual deles era algo imponente, que achei muito foda.

A música “Blood Fire Death” me fez concluir o quanto a banda era excelente. Ao final da audição, ouvi novamente o álbum inteiro observando os detalhes da capa e do encarte. Mesmo gostando das faixas mais agressivas, pensei: “se esse disco não tivesse essas músicas mais “porrada” e tivesse outras músicas mais “Heavy Metal”, mais cadenciadas, seria PERFEITO”.

Alguns dias depois voltei na Jukebox e comentei com o Carlão e o Diniz (que trabalhavam na loja): “cara, esse Bathory é muito massa! Fiquei de cara. Não conhecia essa banda aí”. Lembro que o Diniz disse: “Esse disco é animal e já lançaram mais um depois desse”.

“Blood Fire Death”: Arte interna do vinil gatefold.

A aproximação

Uns 2 anos mais tarde, conheci o Daniel “Danmented” Azevedo (hoje vocalista e guitarrista da banda Axecuter) e lembro de uma ocasião onde fomos numa loja de CDs do Shopping Omar, aqui em Curitiba, a qual não me recordo ao certo o nome.

Se não me engano, ele queria o “Time Does Not Heal” do Dark Angel, mas como não tinha na loja, o dono mostrou um catálogo com muitos títulos para encomendar. Nesse catálogo tinha o CD desejado e, em seguida, comecei a folhear até chegar na letra B.

Ao chegar no nome Bathory, vi um título chamado “Hammerheart” e aquilo me deu uma sensação indescritível, de curiosidade e ansiedade. Achei o nome sensacional. Hammerheart! Fiquei com isso na cabeça.

Mais um ano se passou e eu estava estudando num colégio do Batel chamado Rio Branco, onde conheci um rapaz chamado Juliano, que também curtia Metal, e começamos uma amizade lá. Ao conversar sobre o Bathory, comentei com ele que tinha mais um disco chamado Hammerheart e que eu gostaria muito de ouvir. Para minha surpresa ele disse ter uma fita cassete com a gravação desse disco e que me emprestaria. Porém ele disse: “não sei se você vai gostar. Ele não tem música rápida. É mais arrastado”. A sensação que tive foi justamente a oposta “se for assim e as músicas forem no nível do álbum anterior será perfeito”.

A noite coloquei a fita para ouvir, mas era muito mal gravada. A qualidade estava péssima, devia ser a cópia da cópia da cópia, e os títulos não estavam escritos corretamente.

“Hammerheart”: Arte interna do vinil gatefold.

Ao colocar a primeira faixa “Shores in Flames” para tocar, já senti uma energia muito boa. Senti que de alguma forma viria algo muito especial. Tive a mesma sensação de quando ouvi “A Fine Day to Die” pela primeira vez e pensei “É isso!!! Essa é a pegada!!! Será que o disco inteiro é assim?”.

Quando tocou a música seguinte, “Valhalla”, pensei: “estamos no caminho certo” e quando chegou o refrão achei perfeito, muito imponente. É aquele tipo de música que você escuta com o punho fechado.

A última faixa do lado A, “Baptised in Fire and Ice”, o refrão me tocou muito, eu estava extasiado com o disco, foi um momento que eu estava “lavando a alma”. Até o momento, o disco era perfeito.

Virando o disco, “Father to Son” não me marcou muito pois achei que não tinha a mesma força das anteriores. “Song to Hall Up High”, ali eu senti que, sem exageros, foi um dos momentos mais intensos da minha vida, uma coisa muito profunda que eu não sei explicar. É quando você sente de alguma forma que aquela música foi feita pra você. Lembro que no meio da música quando entra o coro mais acentuado, aquilo ali foi uma faca no meu coração, no melhor sentido possível. Foi o ponto alto do álbum para mim. Essa é uma das maiores trilhas sonoras da minha vida até hoje…

A faixa seguinte “Home of Once Brave”, achei muito boa. “One Rode to Asa Bay” foi excelente.

Conheci esse disco sem ver capa, encarte, foto da banda, nem nada. Mas fiquei apaixonado pelas músicas, pois era exatamente isso que eu gostaria que o “Blood Fire Death” fosse.

A realização

Ainda em 1993, tive a chance de ir para São Paulo e conheci a Galeria do Rock. Lembro de chegar lá num sábado de manhã. As lojas ainda estavam para abrir.

Uma das primeiras lojas a abrirem foi a Low Life Records, uma loja pequena e tinha o “Acts of the Unspeakable” do Autopsy na parede, além de “The Grand Leveller” do Benediction, “The Dead Shall Inherit” do Baphomet e vários outros. Nessa loja, eu comprei esse do Autopsy, que era lançamento e edição com pôster. Já conhecia o “Severed Survival” por indicação do Daniel, assim como também já conhecia o disco do Benediction.

Logo, as lojas já estavam abertas e fui visitando loja por loja, mas cometi um erro de iniciante: não tinha mais dinheiro pois tinha torrado toda minha grana na primeira. Vi vários outros discos que me chamaram atenção.

Numa loja chamada Rock Machine, que vendia mais CD, de repente, o que eu vejo? A capa do “Hammerheart”. Aquilo foi mais um choque violento. Pensei: “Essa capa é maravilhosa”. Perdi noção do tempo que fiquei olhando aquela capa. Não pude comprar, mas como queria ter levado ele pra casa! Fiquei frustrado…

Alguns meses depois, voltei para a Galeria especificamente com o objetivo de comprar esse CD, mas infelizmente não achei. Porém, nessa mesma loja, tive a sorte de achar a versão em LP. Ouvi direto, na fonte principal (vinil). Comprovei que o Bathory seria uma das minhas bandas mais amadas da vida. Era tudo tão perfeito! Parecia mesmo ter sido feito pra mim.

Talvez eu não tenha sido tão objetivo em minhas palavras, mas queria explicar o motivo do “Hammerheart” ser um álbum tão importante pra mim e como o “Blood Fire Death” foi como uma escada para eu chegar até ele.

E você? Também tem esse sentimento pelo álbum? Ou seu álbum preferido do Bathory é algum outro? Comente no campo abaixo e deixe sua opinião.


6 thoughts on “BATHORY: o significado de “Hammerheart” em minha vida

  1. Walter bacckus and m.e.z. says:

    Baah, adorei a resenha. Me fez voltar aos anos 90 quando eu em 1991/92 estava descobrindo esse mundo maravilhoso e apaixonante do metal. Onde tudo era mais díficil mas porém era mais apaixonado por não termos acesso e quando tu conseguia algo compartilhava com os amigos. Bem nessa uma fita era gravada de uma fita que já foi gravada de outra…o que falar desses dois clássicos do bathory ? Obras primas ! Clássicos eternos !

  2. Julio Bona says:

    Grande influenciador do metal underground! CHRYSTIAN ANDERSON MASS é referência quando penso em música extrema! Um gênio da criação que me orgulho em chamar de amigo!

  3. Alexander says:

    Twilight Of The Gods é um clássico. Épico!
    Carlão e Diniz da Jukebox! Puxa, bons tempos. E tinha a Simone também! E a Janaína de uma loja mais abaixo, o nome era Maracangalha… Seria legal rever essa turma… Valeu pela resenha.

  4. Aabacuc Eibenbäume says:

    Simplesmente acho “Hammerheart” um dos álbuns mais supernais que ouvi (o outro é “Twilight of the Gods”.
    Em meus quase 50 anos, já ouvi de tudo (de tudo MESMO em termos de estilos, subestilos, gêneros e subgêneros do UNDERGROUND); não é falsa modéstia: é senilidade mesmo; mas nunca ouvi nada similar aos Bathory nesses meus quase 50 anos!
    E eles são pioneiros em muitos estilos: ingentíssimos!
    Sem igual! Sem êmulos!
    Ah! E vamos olhar para a América do Sul com mais carinho!

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