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1995, chegávamos a metade da década mais importante e prolífica da história do Metal curitibano. As grandes bandas de Death e Black Metal consolidavam suas trajetórias forjadas no final dos anos 80 e principalmente no início da década de 90 com o lançamento de grandes álbuns que se tornariam verdadeiros clássicos e que iriam caracterizar o corolário de uma época sem igual.
O chamado “Boom” do Death Metal curitibano teve seu ápice exatamente em meados dos anos 90, inspirado principalmente pelo prestígio, representatividade e significância de dois grandes nomes do gênero na cidade:
- O grande HECATOMB que possuía uma verdadeira legião de fãs e que costumeiramente lotava os locais onde se apresentavam e que fechou a década com chave de ouro com o lançamento do seu primeiro e único álbum “Empire of No Emperor”, que ganhou recentemente uma reedição fantástica aqui pela Mindscrape Music;
- E claro, o eterno e seminal INFERNAL, a maior banda de Death Metal de Curitiba que marcou definitivamente seu nome na história do gênero com o culto “Drowning in the Chalice of Sin” de 1993.
Diversos nomes importantes surgiram no decorrer da década de 90, entre eles bandas que tiveram pouco tempo de atividade e infelizmente não conseguiram registrar sua história com nenhum lançamento e outras que posteriormente viriam a se tornar grandes e respeitados nomes em âmbito nacional e mundial também. Entre elas estavam: Invocation, Fornication, Necrotério, Eternal Sorrow, Entrails, Iced, Subversive, Imperious Malevolence, Cytomegalo Death, Hate/Legion of Hate, etc.
1995 registrou o lançamento de demos históricas que serviram para o start, reconhecimento e alicerce para tudo o que estas bandas viriam a produzir e lançar posteriormente, verdadeiras pérolas e símbolos da legitimidade, imponência e proporção do Death/Doom Metal curitibano naquele período. Entre elas estão:
Entrails – “Propagation of Brutal Mortality” [DT] – Independente
O Entrails certamente foi uma das bandas mais ativas e participantes da cena curitibana, especialmente no início dos anos 90, fizeram diversas apresentações e abriram muitos eventos históricos como o show com o grande Dorsal Atlântica em Setembro de 1994 no antigo e verdadeiro 92 Graus da Visconde do Rio Branco e os famigerados shows no velho TUC (Teatro Universitário de Curitiba), sempre lotados.
O Entrails tinha como peculiaridade a forte identificação com o Grindcore, ou seja, o que se convencionou a chamar de Death/Grind na época, e que fora feito magistralmente pelo Napalm Death e Terrorizer e tinha um grande impacto na sonoridade da banda, ficando explícito em sua primeira e única demo. Se o Black Metal tinha o bode como símbolo, o Entrails tinha o porco rsrsrs!
Necrotério – S/T [DT] – Independente
A segunda demo autointitulada do Necrotério já mostrava a banda mais coesa e caminhando a passos largos rumo aos seus principais objetivos e serviu também de base para as outras duas grandes demos que a banda lançou posteriormente “Host Horror” (1996) e “Putrid Glory” (1998), que consolidaram e expandiram definitivamente o nome da banda até culminar com o lançamento do seu primeiro álbum, “Lament of Flesh” (1999).
O Necrotério até então era a única banda curitibana a adotar o Splatter como gênero e temática além de também possuir grande identidade com o Grindcore, proposta seguida a risca pela banda em todos os seus lançamentos subsequentes durante estes quase 30 anos de atividade ininterrupta.
Eternal Sorrow – “The Sadness’ Elevation” [DT] – Independente
Algumas coisas já nascem clássicas… Com a disseminação em larga escala mundo afora do Doom Metal no início dos anos 90 especialmente pelas grandes bandas britânicas, Curitiba teve o Eternal Sorrow como seu maior e mais importante representante do gênero e que viria a se tornar uma das maiores e melhores bandas de Doom Metal do Brasil.
Considerada a melhor demo daquele ano por uma conceituada revista especializada de Portugal, a banda cresceu vertiginosamente nos anos seguintes e logo conseguiu seu primeiro contrato com o selo mineiro Demise Records para o lançamento daquele que seria seu milestone, o fantástico álbum “The Way of Regret” (1998). Recentemente o álbum ganhou uma reedição superluxuosa pela Mindscrape Music, digna da história e da representatividade da banda contendo como bônus essa essencial demo, material obrigatório, indispensável!
Imperious Malevolence – “From Eternal Vacuum Storms” [DT] – Independente
Logo após a dissolução do Invocation e a saída de Mané do grande Infernal, rapidamente houve a conjuntura para a formação de uma nova banda na cidade. O resultado não poderia ser diferente, forjada por grandes nomes da cena na época a banda se mostrava bastante coesa e com grandes objetivos. Já no mesmo ano e logo após o começo das atividades, a banda lançou sua primeira demo, fato que chamou muito a atenção não só pela qualidade mas também pela agilidade com que fora produzida e lançada, afinal em meados dos anos 90 ainda não era tão fácil assim gravar e lançar uma demo ou um álbum. Era bastante comum as bandas levarem um bom tempo até concretizarem o lançamento de sua primeira demo especialmente por questões logísticas e econômicas.
O que veio depois foi somente fruto do que foi iniciado naquele já longínquo ano de 1995 por aquela clássica formação inicial… O primeiro álbum, turnês na Europa e a consolidação como uma das grandes bandas de Death Metal do Brasil e que apesar de inúmeras mudanças de formação segue na ativa até os dias atuais.
Amen Corner – “Jachol Ve Tehilá” [CD] – Cogumelo Records
A extraordinária história do Black Metal curitibano já foi contada aqui em pormenores na excelente série intitulada: Black Metal em Curitiba, se você ainda não sabe ou pouco conhece, eis uma grande oportunidade para conhecer o grande passado e também os dias atuais do gênero em Curitiba.
A estrondosa repercussão do clássico “Fall, Ascension, Domination” (1993) e do magnífico EP de 1994 “The Final Celebration”, fez com que uma grande expectativa fosse criada em relação ao novo álbum do Amen Corner. 95 chegou e com ele o lançamento daquele que é considerado por muitos o Gran Opus da banda, o épico Jachol Ve Tehilá. Lá se vão 25 anos do lançamento que consolidou a banda como uma das maiores e mais significativas entidades do Black Metal nacional e da América Latina.
Para muitos, em “Jachol Ve Tehilá”, o Amen Corner atingiu seu ápice criativo e também musical, o álbum mostra a banda ainda mais experiente e bastante diversa em relação aos lançamentos anteriores. É nítida a presença de uma gama bastante expressiva de influências de escolas clássicas do Black Metal europeu dos anos 90, principalmente de grandes nomes do Black Metal helênico. Não há como não lembrar de bandas como Rotting Christ e Varathron, além de outros clássicos como Samael e Katatonia em seus discos iniciais.
Lançado originalmente em 1995 pelo culto selo Cogumelo Records, o álbum ganhou apenas uma reedição em CD Digipack em 2016, impressionante como nenhum selo ainda disponibilizou uma versão em LP desse grande álbum. Algumas coisas são para sempre e 1995 foi realmente um ano dourado para o Metal curitibano e suas prolíficas vertentes, saudosismo e nostalgia para quem viveu tudo isso de perto, grandes dias!
*Esse conteúdo é dedicado aos meus velhos amigos: Guilherme, João e Mané Kreator (Imperious Malevolence dos primeiros dias), Claudinho e Shampoo (Entrails), Adriano, Pampuch e Chimarú (Eternal Sorrow), Emer e Sabugo (Necrotério), Paulista e Tito (Amen Corner), e a todos os verdadeiros Headbangers de Curitiba!
**Em memória de Jonadabe (Max), um dos pioneiros da primeira geração de Headbangers de Curitiba que infelizmente nos deixou no último dia 17 de Agosto de 2020, descanse em paz meu amigo!
Curitiba é um berço de boas bandas de Metal Extremo, os anos 90 foi uma época de ouro para os Headbangers Curitibanos.